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Página:Historia do futuro v.1 (1855).pdf/17

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HISTORIA DO FUTURO.
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as hão de mostrar presentes: agora as promettem com a voz, depois as mostrarão com o dedo. Mas este grande assumpto fique para seu logar. Só digo que quando assim succeder, perderá esta nossa Historia gloriosamente o nome, e que deixará de ser historia do futuro, porque o será do presente.

Mas perguntar-me-ha por ventura alguma emulação estrangeira (que ás naturaes não respondo), se o imperio esperado, como se diz no mesmo titulo, é do mundo, as esperanças porque não serão tambem do mundo, senão só de Portugal? A razão (perdoe o mesmo mundo) é esta. Porque a melhor parte dos venturosos futuros que se esperam, e a mais gloriosa delles será não só propria de nação portugueza, senão unica e singularmente sua. Portugal será o assumpto, Portugal o centro, Portugal o theatro, Portugal o principio e fim destas maravilhas; e os instrumentos prodigiosos dellas os portuguezes.

Vê agora, ó patria minha, quão agradavel te deve ser, e com quanto gosto deves aceitar a offerta que te faço desta nova Historia, e com que alvoroço e alegria pede a razão e amor natural que lêas e consideres nella os seus e os teus futuros. O grego lê com maior gosto as historias de Grecia, o romano as de Roma, e o barbaro as da sua nação; porque leem feitos seus, e de seus antepassados. E Portugal que com novidade inaudita lerá nesta Historia os seus, e os dos seus vindoiros, com quanto maior gosto e contentamento, com quanto maior applauso e alvoroço, será razão que o faça ? Portentosas foram antigamente aquellas façanhas, ó portuguezes, com que descobristes novos mares, e novas terras, e déstes a conhecer o mundo ao mesmo mundo: assim como lieis então aquellas vossas historias, lêde agora esta minha que tambem é toda vossa. Vós descobristes ao mundo o que elle era, e eu vos descubro a vós o que haveis de ser. Em nada é segundo e menor este meu descobrimento, senão maior em tudo: maior cabo, maior esperança, maior imperio. Naquelles ditosos tempos (mas menos ditosos que os futuros) nenhuma coisa se lia no mundo senão as navegações e conquistas de portuguezes: esta historia era o silencio de todas as historias. Os inimigos liam nella suas ruinas, os emulos suas invejas, e só Portugal suas glo-

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