Página:Historia e tradições da provincia de Minas-Geraes (1911).djvu/172

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que ninguém... eu também sofro... sofro tanto como ela... e vou ser para sempre infeliz.

Falando assim o moço abaixava o rosto e tapava os olhos com a mão para ocultar suas lágrimas.

– Acredito e lastimo-o de todo o coração, senhor Eduardo,– respondeu-lhe o fazendeiro; – mas espero que me fará o favor de não ir ainda hoje; espere ainda até amanhã ou depois, tenha paciência. Quem sabe se aquele estouvado cairá ainda em si?... ele estava atordoado com o golpe que rece­beu; não sabia o que dizia, nem o que fazia... o caso não era para menos. Mas talvez que refletindo pense melhor... Esperemos; sou eu que lhe peço em nome de Paulina.

Não havia resistir. Eduardo deixou-se ficar e com o coração atravessado das mais raladoras angústias encaminhou-se para a gameleira, a cuja sombra foi se sentar. Era ali o horto, em que há tempos fizera tragar à mísera Paulina o cálix da amargura; era ali também, que agora ia sorver as fezes do fel das desventuras, que ele por uma cruel fatalidade tinha preparado com suas próprias mãos para si e para ela.

Que de amargas reflexões, que de pungentes recordações não o assaltaram ali naqueles curtos momentos, que resumiam uma vida inteira de decepções, de mágoas e de angústias!