interminável de plainos, florestas, colinas e espigões, cujas formas iam morrer indecisas ao longe engolfadas nas ondas de um vapor dourado. O arpejo tão lânguido, tão cadenciado do sabiá harmonizava-se docemente com aquele místico e voluptuoso remanso, que envolvia toda a natureza. Também cantava ao longe o boiadeiro que vinha tocando as manadas para os currais, e o chiado monótono dos carros, que cortavam os chapadões carregados de fartas colheitas.
Em um ângulo do vasto curral que ficava na frente da casa, havia uma dessas gameleiras colossais, como as há em quase todos os currais das fazendas daquele sertão, e que podem abrigar debaixo de sua gigantesca cúpula uma numerosa manada de gado, de tronco nodoso e cheio de fendas e cavidades, em qualquer das quais um homem se abrigaria comodamente do mais violento temporal. Servem ao mesmo tempo de aprisco para o gado, e de coberta, onde se guardam carros, cangas e mais arreios de carreação.
Recostado sobre a mesa de um carro, que se achava à sombra da gameleira, achava-se Eduardo tomando o fresco, e espairecendo as vistas pela elevadora perspectiva que tinha diante dos olhos; sem dúvida cismava saudades de sua terra, de sua mãe, e da sua querida Lucinda. O velho fazendeiro achava-se também