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a parasita azul
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ex-poeta de 1810 fosse repousar no nada ao lado das suas producções extinctas, deixando na sciencia alguns vestigios da sua passagem por ella. Camillo apressou-se a escrever ao pae uma carta cheia de reflexões philosophicas.

O periodo final dizia assim:

« Em summa, meu pae, se lhe parece que eu tenho o necessario juizo para concluir aqui os meus estudos, e se tem confiança na boa inspiração que me ha de dar a alma d’aquelle que la se foi d’este valle de lagrymas para gozar a infinita bemaventurança, deixe-me ca ficar até que eu possa regressar ao meu paiz como um cidadão esclarecido e apto para o servir, como é do meu dever. Caso a sua vontade seja contrária a isto que lhe peço, diga-o com franqueza, meu pae, porque então não me demorarei um instante mais n’esta terra, que ja foi meia patria para mim, e que hoje (hélas!) é apenas uma terra de exilio. »

O bom velho não era homem que pudesse ver por entre as linhas d’esta lacrymosa epistola o verdadeiro sentimento que a dictára. Chorou de alegria ao ler as palavras do filho, mostrou a carta a todos os seus amigos, e apressou-se a responder ao rapaz que podia ficar em Paris todo o tempo necessario para completar os seus estudos, e que, alêm da mezada que lhe dava, nunca recusaria tudo quanto lhe fosse indispensavel em circumstâncias imprevistas. Alêm d’isto, approvava de coração os sentimentos que ele manifestava