na memória do outro. O que porém decidiu tudo foi a apresentação de uma carta que cada um deles tinha casualmente no bolso. O texto de ambas mostrava que eram recentes; a expressão de ternura não era a mesma nas duas epístolas, porque Rosina, como sabemos, ia afrouxando o tom em relação a Ernesto; mas era quanto bastava para dar ao rapaz de nariz comprido o golpe de misericórdia.
— Desprezemo-la, disse este, quando acabou de ler a carta do rival.
— Só isso? perguntou Ernesto; o simples desprezo será bastante?
— Que vingança tiraríamos dela? objetou o rapaz de nariz comprido. Ainda que alguma fosse possível, não seria digna de nós...
Calou-se; mas tocado de uma súbita idéia exclamou:
— Ah! lembra-me um meio.
— Qual?
— Mandemos-lhe uma carta de rompimento, mas uma carta de igual teor.
A idéia sorriu logo ao espírito de Ernesto, que parecia ainda mais humilhado que o outro, e ambos foram dali redigir a carta fatal.
No dia seguinte, logo depois do almoço, estava Rosina em casa muito sossegada, longe de esperar o golpe, e até forjando planos de futuro, que assentavam todos no rapaz de nariz comprido, quando o moleque lhe apareceu com duas cartas.