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HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES
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Os duques demoraram-se em Vigone até ao mez de março, recebendo ahi D. Beatriz, por parte do estado do Piemonte, um donativo de cincoenta mil florins, e o duque outro de duzentos mil.

Claretta diz que a entrada dos noivos em Turim fôra saudada pela população, mas que as festas publicas bem depressa tiveram de ser ensombradas pela noticia da morte do rei de Portugal, occorrida no mez de dezembro, e pela peste que os portuguezes haviam deixado em Niza, cujos habitantes flagellára por longo tempo.

A scena da ponte, descripta no codice do Panorama, quando uns cem alabardeiros pozeram as alabardas aos peitos dos portuguezes, que queriam acompanhar a infanta, teria uma explicação inverosimil pela versão de Herculano, visto como o duque não havia ainda regulado a situação financeira de um casamento que tanto lhe convinha e por que tanto instára.

Sendo tamanha, como refere Claretta, a multidão de portuguezes que assistiram á recepção da infanta D. Beatriz, explica-se facilmente o acto de violencia praticado pelos alabardeiros como medida prophylatica adoptada pelo duque contra a invasão de uma epidemia que desde longos annos não tinha deixado de fazer grande numero de victimas em Portugal. Póde mesmo ter acontecido que um ou outro caso de peste se houvesse manifestado entre os cinco mil portuguezes que por occasião das festas do casamento se encontravam em Niza, incluindo os marinheiros dos