Comparecendo o escrivão da puridade em vez do coudel-mór, D. João II agastou-se e perguntou ao moço da camara:
—A quem te mandei chamar?
—A Fernão da Silveira.
—Não era este, replicou o rei, mas o Bom.
O escrivão da puridade julgou-se desconsiderado com estas palavras do rei e, sahindo do Paço, como encontrasse no Rocio D. Martinho de Castello Branco, desabafou com elle. D. Martinho procurou aquietal-o com bom conselho, porém Fernão da Silveira insistiu em mostrar-se agastado contra o rei, de quem jurou vingar-se.
—Mas o que podereis vós fazer? perguntou D. Martinho.
—Matal-o, respondeu o escrivão da puridade.
E correu d'alli a bandear-se com os conspiradores: o duque de Vizeu, o bispo d'Evora D. Garcia, o irmão do bispo, D. Fernando de Menezes, D. Guterres Coutinho, D. Alvaro Coutinho e seu filho, o conde de Penamacôr e seu irmão D. Pedro d'Albuquerque.
D. João II soube das conferencias mysteriosas dos conspiradores, celebradas em Santarem, fóra de portas.
Por mais de uma delação o soubera.
Tinha o bispo d'Evora certa manceba, de nome Margarida Tinoco, a cujo irmão, Diogo Tinoco, ella revelára o segredo da conspiração. Foi este homem que, disfarçado em frade, procurou o rei no conven-