A verdade deve estar no meio termo: os dois filhos importaram-se pouco com a morte da rainha, quer lhe deitassem agua benta quer não.
Nós é que lh'a não podemos deitar a elles para absolvel-os de tão grave falta.
Pois esta illustre princeza que tanto luctára toda a sua vida, com o marido, com o cunhado D. Duarte[1], com Castella, com o irmão e com os filhos, alli estava reduzida aos seus ultimos despojos, tocados pela mão de vandalos que remexeram na cal para encontrar decerto alguma joia com que a rainha tivesse sido amortalhada. O marido, bem menos sympathico do que ella, está no pantheon real de S. Vicente, mas a benemerita Medina-Sidonia, que, ainda descontado o natural interesse egoista de antes querer ser rainha uma hora do que duqueza toda a vida, foi uma collaboradora importante na restauração da monarchia nacional, tem jazido no esquecimento e no abandono, tão sem repouso, que o seu cadaver vai agora fazer a terceira jornada, porventura definitiva[2].
- ↑ Na Historia do Infante D. Luiz, recentemente publicada pelo snr. José Ramos Coelho (1889) vem indicadas, de pag. 148 a 150, as razões que motivaram a discordia entre D. Luiza de Gusmão e D. Duarte de Bragança.
- ↑ O cadaver da rainha foi em 1666 transferido da igreja do Grillo para a de Corpus Christi; em 1691 foi mudado, dentro d'esta igreja, de um lugar para outro; em 1713 trasladaram-no da igreja de Corpus Christi para a do Grillo. Duas jornadas e tres mudanças. No principio d'este anno (1889) fez a terceira Jornada, do Grillo para S. Vicente.