Página:Historias de Reis e Principes.djvu/159

Wikisource, a biblioteca livre
152
HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES

E toda a pena das mulheres do Minho era não serem soldados, não serem granadeiros,

Para defender
D. Miguel primeiro.

Ainda ha pouco tempo recolhi em Mafra a tradição de um passatempo galante de D. Miguel, quando alli ia, e se demorava no convento, cujos corredores são, como se sabe, extensissimos.

O passatempo a que me vou referir tem todo o caracter d'esses jogos cavalheirescos da idade-média, que nós ainda hoje vemos com agrado através do prisma da elegancia antiga, para sempre quebrado.

O rei organisava nos corredores do mosteiro cavalhadas pittorescas. As damas montavam jumentos, e deviam partir em duas alas e em sentido inverso á direcção que D. Miguel tomava, tendo partido do extremo opposto do corredor.

O rei brandia uma tocha accesa, e as damas hasteavam uma roca abundantemente carregada de estopa. D. Miguel, sempre a galope, devia, ao passar pelas damas, incendiar-lhes a estopa das rocas,—o que poucas vezes falhava.

Imagine-se a ruidosa alacridade d'esse galante torneio, em que, não raras vezes, succederia ás damas o desastre de cahirem mal, como aconteceu uma vez a Marie Antoinette, proporcionando-lhe a queda um bello dito:

Ah! dame! quand on monte à âne, il faut être en état d'en tomber.