Saltar para o conteúdo

Página:Historias de Reis e Principes.djvu/178

Wikisource, a biblioteca livre
MAXIMILANO EM PORTUGAL
171

gente se julga constituida na obrigação de alimentar os gatos tunantes atirando-lhes para o meio da rua as cabeças dos carapaus e as miudezas das pescadas. Em Lisboa o gato não faz nada; quem caça os ratos não são os gatos, são as ratoeiras. E ao passo que se dá de comer aos gatos bohemios com uma piedade tradicional, toda a gente compra uma ratoeira para demonstrar a inutilidade do gato alfacinha. Na capital portugueza, o gato é um sultão, que tem o seu serralho de bichanas ao ar livre. Mas se houver uma camara municipal que se proponha arcar com o gato, não haverá gatos eleitoraes que a aguentem, n'uma reconducção, á bocca da urna.

Maximiliano impressionou-se em Lisboa com a abundancia dos papagaios. Parece, diz elle, que estamos n'uma floresta virgem do Brazil. E accrescenta que as parlendas dos papagaios são de ensurdecer a gente. Digam que tambem não é verdade, se são capazes! A abundancia de papagaios é talvez um vestigio do nosso antigo dominio colonial. Dos bons tempos em que fomos os primeiros a pôr o pé na costa d'Africa e no Brazil restam hoje apenas as chronicas e os papagaios. O que é certo é que rara casa não só de Lisboa mas tambem de todo o reino deixa de ter um papagaio, seja pardo ou verde, da Africa ou do Brazil. Cada brazileiro que chega, traz um papagaio para si, e tres papagaios para os parentes. E na tradição popular anda o estribilho dos papagaios, que tem passado de geração em geração com o Bernal francez e a Silvaninha: