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HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES
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veira saber se se queria ir, e ella escolheu a parte de estar no reino por então.»[1]

Uma tal resposta surprehendeu decerto o leitor, por não ser conforme com a declaração que no conselho d'el-rei fizera Ruy de Sousa.

Tem comtudo uma explicação, e o leitor vai sabel-a.

D. Brites de Sousa tinha realmente manifestado desejo de ir viver com seu marido em Castella.

Pesava-lhe a vida que levava longe d'elle, com um filho pequeno nos braços. Chamava-se João o filho legitimo de Fernão da Silveira. O conspirador tinha outro filho, illegitimo, que houvera de uma manceba de nome Izabel Rodrigues, e que havia nascido em 1480.

D. Brites chegára a fallar aos do conselho d'el-rei para que lhe obtivessem a concessão de passar a Castella. Mas obtida a concessão, soubera que Fernão da Silveira tinha mandado ir a manceba e o filho.

O seu coração amantissimo não foi superior a este golpe. Resolveu não ir para castigar a infidelidade do marido, que no homisio preferira as consolações da familia illegal ás da familia legitima.

Eis-aqui a rasão que determinou a recusa de D. Brites.

O certo era que Fernão da Silveira vivia em Castella sem disfarces de mancebia. A sua existencia,

  1. Torre do Tombo, cella M, maço 1:163, fol. 495.