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Página:Historias de Reis e Principes.djvu/279

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Não sei se o leitor ficará inclinado a acreditar que a lenda do menino de S. Domingos haja dado origem á locução proverbial de que os meninos recemnascidos vêm de França.

Se não ficar, releve-me a innocentissima conjectura pelo prazer que decerto lhe deram as transcripções que fui buscar a Duarte Nunes e que, aproveitando-lhe a phrase, diga complacentemente com o chronista: Isto é coisa de graça.[1]

  1. Esta hypothese, que aventamos humoristicamente, tomou maior vulto no nosso espirito desde que, procedendo a averiguações, soubemos que só na peninsula iberica se diz que o menino veio de França. Hay venido de Francia, diz-se em Hespanha, e esta communidade de locução explica-se satisfatoriamente n'este caso, como em muitos outros modismos, adagios e gnomas, pelas relações frequentes, que sempre houve, entre os dois paizes da peninsula. Mas já nos Açores, que communicam menos facilmente com Portugal do que a Hespanha, comquanto sejam territorio portuguez, se não emprega a mesma locução. Na Terceira diz-se que o menino veio do Pico. Mostra isto, talvez, que os Açores não receberam a impressão do facto historico occorrido em Lisboa com a mesma insistencia e intensidade com que a recebeu a Hespanha, por ser nossa visinha, paredes meias. As variantes de expressão, que vamos reproduzir, tendem a demonstrar que a locução portugueza proveio de um facto privativo a Portugal. Em França diz-se que o menino nasceu nas couves, qu'il est né dans les choux; e até em algumas participações de nascimento se vê representada uma creança emergindo d'entre folhas de couve. Em Italia a expressão é outra: que a mamã comprou um