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HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES

para tomar por mulher uma filha do rei D. Manuel. E não lhe parece que estas razões fossem as unicas que imperaram no animo dos portuguezes para desestimar o casamento. Copía, em reforço da sua opinião, um codice da primeira metade do seculo XVI, existente na bibliotheca real, da qual transcreve os seguintes periodos com relação á viagem da infanta:

«... e a um domingo, dia de S. Miguel, de setembro do anno de 521, chegaram a Villa-Franca de Niça, porto do duque de Saboya, a uma hora depois do meio-dia; e assi das náus como da villa se fez grão festa d'artilharia. E o duque mandou pedir á infante, que não dormisse na nau; e ella se escusou de sair por aquella noite; e vendo o duque sua escusa, foi lá em pessoa com alguns gentishomens, e lhe pediu que com toda maneira saisse: ella o fez por conselho do conde, contra sua vontade, e de todos, e saiu com tochas; onde achou doze facas guarnecidas, para si, e para as damas, e alguns chibaos para os fidalgos, porque d'alli a Niça, onde era a povoação, pelo rio acima, era meia legua; e ahi foram ter. E a duqueza de Nemuns (Nemours) irman do duque, e mãe d'el-rei de França, que ahi estava, saiu fóra ao terreiro das casas, onde o duque pousava, a receber; e ahi se fizeram grandes ceremonias e cortezias. E alli foi com a infante para dentro, e assi a rainha por hospeda aquella noite. Ao outro dia pela manhã foram ouvir missa a um mosteiro