batido da fortuna, com uma alegria quasi sem intermittencias. Nos primeiros tempos, como as demandas não vinham, matavamos as horas com excellente palestra, animada e viva, em que a melhor parte era d'elle, ou fallassemos de politica, ou de mulheres, assumpto que lhe era muito particular.
Mas as demandas vieram vindo; entre ellas uma questão de hypotheca. Tratava-se da casa de um empregado da alfandega, Themistocles de Sá Botelho, que não tinha outros bens, e queria salvar a propriedade. Tomei conta do negocio. O Themistocles ficou encantado commigo: e, duas semanas depois, como eu lhe dissesse que não era casado, declarou-me rindo que não queria nada com solteirões. Disse-me outras cousas e convidou-me a jantar no domingo proximo. Fui; namorei-me da filha d'elle, D. Rufina, moça de dezenove annos, bem bonita, embora um pouco acanhada e meia morta. Talvez seja a educação, pensei eu. Casámo-nos poucos mezes depois. Não convidei o caiporismo, é claro; mas na egreja, entre as barbas rapadas e as suiças lustrosas, pareceu-me ver o carão sardonico e o olhar obliquo do meu cruel adversario. Foi por isso que, no acto mesmo de proferir a formula sagrada e definitiva do casamento,