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HORTO

Voaste, meiga creança,
Tão feiticeira e mimosa,
Como um riso de esperança,
Como uma folha de rosa.

E’ triste morrer no fim
De uma manhã de esplendores...
A fronte occultar, assim,
N’uma grinalda de flores.

E sentir, por entre a dor
Da derradeira agonia,
De mãe um beijo de amor
Roçar a fronte já fria...

Quando n’um suspiro leve,
Est’alma que o corpo encerra,
— Como uma pomba de neve
A desprender-se da terra; —

N’um vôo suave e franco
Fugiu para o Céo de anil...
Vestiram-te então de branco,
Como uma noiva gentil.

No setineo caixãosinho,
Mais puro que as alvoradas,
Depuzeram teu corpinho,
Entre as cambraias nevadas.