UM SONHO
Tudo era calmo... Junto, ao pé do altar,
Meu coração rezava docemente;
E um cirio branco, triste, a soluçar
Dizia á flor n’um murmurar dolente:
«Vê, minha irmã, aqui na solidão
Dorme Jesus, sosinho, abandonado...
Não sente palpitar um coração
Que lhe traga um sorriso abençoado.
Elle diz: vinde á mim, vós que choraes
E o vosso pranto mudarei em flores;
Eu quero recolher os vossos ais
No cofre onde descançam minhas dôres.
Falla Jesus, e o mundo não responde.
Os homens folgam nos salões ruidosos,
E aqui, dorida, nossa voz esconde
A magua funda dos que vão chorosos.»