Qual para lábios tórridos, queimados,
Enche-se um calix de cristal suave?
Porque procura, um coração estranho,
Qualquer embora, — mas que o seu não seja,
Para nele fundir-se inteiro, inteiro,
Como vários metais de varias sortes
Ao mesmo fogo idênticos se ligam?
Porque Deus — saber eterno —
Tais a nós nos quis formar:
Quis a hera unida ao tronco,
Quis a terra unida ao mar.
Porque se me extasia a mente às vezes,
E vaga pelo mundo, e julga os homens,
Qual severo juiz, e os escarnece,
E compondo um sarcasmo às frases suas
Co'o riso de Demócrito os insulta?
Porque descrê das afeições, que mostram,
Francos, singelos, como o rir do infante?
Porque despreza um coração de amigo,
Que o foi por tempos, na aparência ao menos,
E falsário, traidor, demônio o chama,
Por um assomo de suspeita ou cólera?
Porque da criação blasfema às vezes,
E tem por maus os sentimentos de homem,
E a natureza dos mortais exprobra
Ante o Senhor, que no-la deu tão justa?
Porque
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Aspeto