O que entenderdes que é útil, podeis sem receio publicá-lo.
COURIER
A natureza desta publicação exige de si algumas palavras de explicação. Este prólogo é filho da necessidade tão-somente. Longe de mim a vaidade dos discursos ociosos.
As poesias presentes agradarão a bem poucos: agradarão apenas a algumas almas fortes, que não puderam ainda ser eivadas nem do cancro do cepticismo, nem da mania do misticismo: agradarão apenas a alguns homens completamente livres, que não sujeitaram-se ainda, senão às luzes da razão. Ora, estes homens são bem raros na sociedade atual, porque a hipérbole dos sistemas e das crenças traz em si não sei que talismã, que arrasta todos os espíritos, por bem formados que sejam. O ecletismo nas opiniões, que não são essencialmente filosóficas, repugna ainda aos ânimos, e é crismado de absurdo.
Eu tenho, por tanto, a maioria dos homens por meus inimigos.
Pela mão invisível da Providencia fui arrojado há três anos para o coração do claustro. Por essa inclassificável ação, de que hoje me espanto, tive as bênçãos de uns e os escárnios de outros. Eram ainda os homens místicos e os cépticos que louvavam-me ou vituperavam-me. Pela mão invisível da Providencia fui arrojado outra vez para o torvelinho da sociedade. Por isso tive a maldição de quase todos. Eram ainda os místicos, que não pejavam-se de cantar a palinódia dos louvores, que me haviam magnificamente dispensado, — eram os cépticos, que compunham deste acontecimento um marciálico epigrama.
Hoje, entre tanto, venho oferecer ao publico o complemento de meus pensamentos durante meu triênio claustral.
Serei recebido pelos mesmos homens: — por tanto, mui