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Ha em todo o invento uma idêa fundamental, caracteristica, em que, por assim dizer, está a sua essencia. Na machina de vapôr è o emlolo movido pela força expansiva do vapôr da agua. Na illuminação a gaz é a distillação das substancias organicas para lhes extrahir um fluido combustivel e capaz de dar luz clara e brilhante. Na photographia é a fixação das imagens dos objectos sobre corpos que a luz modifica. Na aerostação, finalmente, é a preparação de envoltorios, que, cheios de ar dilatado pelo fogo ou de fluidos mais leves que o ar, sobem n'elle por virtude do principio denominado d'Archimedes.

E assim como não ha rasão para contestar a Papin a gloria do descobrimento das machinas de vapôr, se bem que só alguns annos mais tarde Savery construisse a primeira capaz de receber uteis applicações:[1] assim co-

  1. Não figura na historia das machinas de vapor o nome de Bento de Moura Portugal. Que teve alguma parte importante nos aperfeiçoamentos, que successivamente se foram fazendo a estes apparelhos, é o que múi claramente se deduz da noticia seguinte, extrahida da «Gazeta de Lisboa» de 6 de fevereiro de 1742.
    «A rainha N. S. com os principes e o sr. infante D. Pedro foram a uma das casas reaes de campo, do sitio de Belem, a que chamam da praia, e ali viram as operações de duas machinas, as quaes por meio do peso do ar e da força do vapor levantavam agua, dando o frio occasião a que o peso do ar podesse tornar a reduzir em agua os vapores, em que o calor a tinha transformado. El-rei N. S. com o principe e o sr. infante D. Antonio tinham já visto a operação d'estas machinas, que são as que os inglezes chamam simples, as quaes em terras abundantes de lenha são de grandissima utilidade. Deve-se a sua primeira origem ao marquez de Worcester, e invento da sua practica ao capitão Severi, ambos de nação ingleza, e o moverem-se por si mesmas, com mais algumas circumstancias attendiveis, ao Dr. Bento de Moura Portugal, superintendente e conservador das fabricas reaes da fundição d'artilharia da comarca de Thomar, socio da Real sociedade de Londres, o qual assistiu ás mesmas operações e fez armar as machinas.»