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Página:Iracema - lenda do Ceará.djvu/42

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Martim sorrio do ingenuo desejo da filha do Pagé.

— Vem! disse a virgem.

Atravessarão o bosque e descerão ao valle. Onde morria a falda da collina, o arvoredo era basto: densa abobada de folhagem verde-negra cobria o adyto agreste, reservado aos misterios do ritho barbaro.

Era de jurema o bosque sagrado. Em torno corrião os troncos rugosos da arvore de Tupan; dos galhos pendião occultos pela rama escura os vasos do sacrificio; lastravãom o chão as cinzas de extincto fogo, que servira á festa da última lua.

Antes de penetrar o recondito sitio, a virgem que conduzia o guerreiro pela mão, hesitou, inclinando o ouvido subtil aos suspiros da brisa. Todos os ligeiros rumores da mata tinhão uma voz para a selvagem filha do sertão. Nada havia porém de suspeito no intenso respiro da floresta.

Iracema fez ao estrangeiro um gesto de espera e silencio e desappareceu no mais sombrio do bosque. O sol ainda pairava suspenso no viso da serrania: e já noite profunda enchia aquella solidão.

Quando a virgem tornou, trazia n'uma folha gotas de verde e extranho licôr vasadas da igaçaba,