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Com efeito, mal a filha do hortelão fez saber a Elói o serviço que exigiam dele, o criado apressou-se em ir à cata de um médico, e depois à compra dos medicamentos precisos.

Esta solicitude, confessou depois o próprio Elói, era ordem expressa de Davi.

— Ah! dizia Vicente quando soube desta circunstância, e aquele amigo tão longe! Se eu morrer?...

— Morrer? Não fale nisso, meu pai...

— É muito possível, minha filha, eu nem sempre hei de viver, e bom é que nos acostumemos a este pensamento, de que, aliás, nunca nos devíamos esquecer.

Emília chorava ouvindo estas palavras de seu pai. Vicente, para distraí-la, começava de afagá-la e passava a assuntos diferentes.

Entretanto, a moléstia de Vicente agravou-se, e o médico chegou a recear pelos dias do enfermo.

Quando Emília soube do estado grave de seu pai quase endoideceu.

Não era só o arrimo que perdia; era a imagem viva da consolação e do conforto que ela tinha nele e que estava prestes a separar-se dela.

Redobraram os cuidados.

Elói durante algumas noites deixou a casa do amo para ir passá-las ao pé do enfermo.

Emília por seu lado passava as noites em claro, e só cedia às instâncias do criado para que fosse descansar, quando já lhe era absolutamente impossível conservar-se acordada.

Ainda assim pouco dormia. Passando da realidade dos fatos, Emília era dominada pelos mistérios da imaginação. Os sonhos mais lúgubres e assustadores atordoaram o seu espírito durante o sono.

Uma noite, em que Elói, sentado em um pequeno banco, fazia esforços incríveis contra o sono que o invadia, Vicente acordou de uma madorna de meia hora. Viu que o criado fugia embalde ao sono, e cuidou que a filha também estivesse repousando.

Mas, desviando o olhar para o fundo do quarto, deu com os olhos em Emília, ajoelhada, apoiada em uma cadeira, implorando não sei que santo invisível pela saúde do pai.

Este espetáculo comoveu o doente. As lágrimas vieram-lhe aos olhos. Lembrou-se então das horas longas e choradas que passara igualmente junto ao leito da filha, implorando ao Senhor pela saúde dela.

E não pôde deixar de dizer com voz fraca, mas suficiente para que ela ouvisse: