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JORNAL DAS FAMILIAS.


VII.

A formosa moça pallida e abatida estava sentada no seu quarto a sós escrevendo á sua amiga, quando recebeu uma carta do moço n’estes termos.

Meu anjo:

A mão cruel da desgraça esmaga-me o coração.

Acabo de perder meu pae, meu unico e verdadeiro amigo, e com elle toda a esperança que me alimentava a vida.

Hei de passar sem ver-te e hei de perder-te porque sou pobre, porque destinam-te só a homens ricos!

Oh! tu não sabes, nem permitiria a Deus que saibas, o que é perder-se um pae e lutar-se com a desventura.

Adeus... até breve. Crê que meu ultimo suspiro será por ti: B.

Aquella moça gentil, cheia de vida e mocidade, ficou com as feições alteradas, e em sombrio e mudo desespero contemplava com os olhos fixos o azul dos céos.

Quanto pode o amor n’um peito generoso e sensível!

Essa dôr silenciosa affectando a alma affectou-lhe o corpo.

No dia seguinte cahia ella com uma pneumonia, da qual escapou no fim de quinze dias.

Ainda ella estava com convalescença, e apenas havia tres dias, que principiava a dar alguns passeios, quando recebeu do moço as seguintes linhas:

«Perdoa-me, grave enfermidade me tem prostado. B.»

Estas linhas eram escriptas com mão tremula.

Deixemos Palmyra por um momento entregue á dor e á saudade e vejamos o que acontecera ao moço, seu apaixonado.


VIII.

Depois da mudança de Palmyra, o moço tinha mudado de casa.

Adoecendo gravemente em consequencia da dupla perda de seu pae e da insignificante herança, que mal chegava para pagamento dos credores, quiz elle acolher-se no hospital da ordem de *** de que era irmão.

Não o consentio um amigo, que o levou para sua casa em S. Clemente.