de morte e de affronta entre mim e ti? Porque preferes o fructo do cadafalso ás villas e castellos de que te faço senhora? Porque trocas a estola do clerigo que ha-de unir-nos pelo baraço aspero do algoz?”
“Rei de Portugal!—respondeu a mulher de João Lourenço da Cunha com um brado de furor—ainda me perguntas porque o faço? Tu nunca serás digno do sceptro de teu pae! Queres saber porque ajuncto pensamentos de sangue a pensamentos d’amor? É porque esses de quem eu o peço pediram tambem o meu sangue. Queres saber porque interponho entre mim e ti um instrumento de morte e d’affronta? É porque o teu bom povo de Lisboa quiz também interpôr entre nós a morte, e saciar-me de affrontas. Queres que te diga porque prefiro o fructo do cadafalso ás villas e castellos que me offereces? É porque para os animos generosos não ha vender vinganças por ouro. Vingança, rei de Portugal, te pede em dote a tua noiva! Jura-me que um dia os teus vassallos que me perseguem serão tambem perseguidos, e que essa vil plebe, que cobre de injurias e pragas o meu nome, porque te amo, o amaldiçoem, porque levo os seus caudilhos ao patibulo. Este é o preço do meu corpo. Sem esse preço a neta de D. Ordonho de