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Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/109

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prestes para a defesa os seus engenhos, e o castello d’Obidos será teu. Cintra pendura-se pela montanha entre lençoes d’aguas vivas, e respira o cheiro das hervas e flores que crescem á sombra das penedias: pódes ter por tua a Cintra. Alemquer é rica no meio de suas vinhas e pomares, e Alemquer te chamará senhora.”

“Guarda as tuas villas, D. Fernando, que eu não t’as peço em dote: quero apenas uma promessa de cousa de bem pouca valia.”

“De muita ou de pouca, não me importa! Dar-te-hei o que me pedires.”

D. Leonor estendeu a mão para a especie de portada romana, que se erguia solitaria no meio do terreiro deserto:

“É alli que tu me darás o preço do meu corpo, se um dia a cerviz da orgulhosa Lisboa se curvar debaixo de teu jugo real.”

Elrei lançou um rapido volver d’olhos para onde Leonor Telles tinha o braço estendido, mas recuou horrorisado. O vulto que negrejava no meio do terreiro, era o patibulo popular e peão: era a forca, tétrica, temerosa, maldicta!

“Leonor, Leonor!—­disse elrei com um som de voz cavo e debil—­porque vens tu misturar pensamentos de sangue com pensamentos d’amor? Porque interpões um instrumento