Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/119

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o braço e o index para o logar onde passava Fernão Vasques. Depois partiu com a turbamulta que o rodeava, em quanto o petintal o seguia de longe, lento e cabisbaixo.

O alfaiate, cercado de outros cabeças da revolta da vespera, encaminhou-se para a alpendrada de S. Domingos. Trazia vestida uma sáia [1] de valencina reforçada, calças de bifa, çapatos de pelle de gamo, chapeirão de ingres com fita de momperle, e cincta de couro, tudo escuro ao modo popular. Com passos firmes subiu os degraus do alpendre. D’alli, em pé, com os braços cruzados, correu com os olhos a praça, onde entre o povo apinhado se fizera repentino silencio. Depois, tirando o chapeirão, cortejou a turbamulta para um e outro lado; os seus gestos e ademanes eram já os de um tribuno.

“Alcacer, alcacer pela arraya-miuda! Alcacer por elrei D. Fernando de Portugal, se desfizer nosso torto e sua vilta, senão!...”

Esta exclamação d’um alentado alfageme que estava pegado com a balaustrada do alpendre,

  1. Muitos dos trajos civis do seculo decimo-quarto eram communs a ambos os sexos, ou pelo menos tinham nomes communs, como se póde vêr da lei de D. Affonso IV ácerca dos trajos.