Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/140

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mendigo. Ao menos os dois mil maravedis de ouro...”

“Ai!—­suspirou o thesoureiro-mór—­juro a vossa real senhoria que me é impossivel achar agora outra quantia maior que a de mil dobras pé-terra e trezentas barbudas.”

“Fernando—­atalhou Leonor Telles—­ordena aos moços do monte que ahi ficaram que enfreiem as mulas: devemos partir já. É tão meu affeiçoado D. Judas, que com duas palavras eu obterei o que tu não podeste obter com tantas rogativas.”

Ella sorriu alternativamente com um sorriso angelico para elrei e para o thesoureiro-mór. D. Fernando obedeceu, e, alevantando o reposteiro que encobria uma porta fronteira áquella por onde entrára o beguino, desappareceu. O thesoureiro ía a falar; mas ficou com a bôca semi-aberta, o rosto pallido, e como petrificado, vendo-se a sós com D. Leonor. Era que já a conhecia havia largos tempos.

“D. Judas,—­disse esta em tom mavioso—­tu has-de fazer serviço a elrei para esta jornada. Darás os dous mil maravedis velhos.”

“Não posso!—­respondeu D. Judas com voz trémula e afogada.

“Judeu!—­replicou D. Leonor, apontando para um cofre pequeno, que estava no canto