Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/158

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ou lornou-o invisivel algum encantador seu amigo?”

“Nem uma cousa nem outra: mas com estes olhos de grande peccador (aqui o ichacorvos fez o gesto habitual de cruzar as mãos sobre o peito) eu o vi sair para a banda da portada cruz...”

“Fr. Roy, olhae que estes honrados cidadãos vos escutam, e que o auto é mui grave para gastar truanices.”

“Já disse, mestre Bartholotmeu, que falo verdade. Pelo bento cercilho do sancto-padre vos juro que hoje elrei não dormirá em Lisboa, segundo o geito que lhe vejo. Elle cavalgava uma possante mula de caminbo; n’outra ia uma dona coberta com um longo véu: seguiam-no donzeis, falcoeiros e moços de monte. Ao passar ainda lhe ouvi estas palavras:—­olhae aquelles villãos traidores como se junctavam: certamente prender-me quizeram, se lá fora [1] !—­Não pude perceber mais nada. Que mais, porém, é preciso? Deixastes fugir a prêa: agora catae-lhe o rasto.”

“Traidor é elle, que nos ha mentido como um pagão!—­bradou o tanoeiro sopesando o

  1. Nom quis alla hir e partiose da çidade com D. Lionor, ho mais escusamente que pode, e hi a dizendo pello caminho; “Oulhaae, &c.”—­Fernão Lopes, chr. de D. Fernando c. 61.