Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/175

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da ermida de S. Pedro, trepava já para o lado do Olival, e vinha entestar pelo norte com o couto de Cedofeita, e pelo oriente com a villa ou burgo episcopal. A igreja, o municipio, e a monarchia entre esses limites pelejaram por seculos suas batalhas de predominio, até que triumphou a corôa. Então a linha que dividia as tres povoações desappareceu rapidamente debaixo dos fundamentos dos templos e dos palacios. O Porto constituiu-se a exemplo da unidade monarchica.

Era neste burgo ecclesiastico, nesta cidade nascente, que por um formoso dia de janeiro da era de Cesar de 1410 (1372) se viam varridas e cobertas de espadanas e flores as estreitas e tortuosas ruas que pela encosta do monte guiavam ao burgo primitivo fundado ou restaurado pelos gascões, se não mentem memorias remotas. [1] Na rua do Souto, já assim chamada, talvez pela vizinhança de algum bosque de castanheiros, [2] como principal entrada da povoação, andavam as danças judengas e folias mouriscas com musicas e trebelhos ou

  1. Conde D. Pedro, tit. dos Viegas. Cunha, Cat. dos Bispos do Porto, part. 1.ª pag. 15.
  2. E fezerom mui ápressa hua grande praça ante S. Domingos e a rua do Souto, que era entom todo ortas. F. Lopes, Chr. de D. João I, P. 2. c. 96.—­Isto era poucos annos depois da epocha de que vamos falando.