Mas esse canto tinha o que quer que era triste na toada. Triste era tambem o aspecto dos populares, que sem um só grito de regosijo se apinhava para vêr passar aquelle prestito real. Mil olhos se cravavam no infante D. Diniz, cujo rosto melanclholico revelava que os seus pensamentos eram accordes com os do povo, que por toda a parte não via neste consorcio senão um crime e uma fonte de desventuras. Os cortezãos, porém, fingiam não perceber o que passava á roda delles, e pareciam transbordar de alegria. Muitos eram daquelles que mais contrarios haviam sido aos amores d’elrei, mas que vendo emfim D. Leonor rainha, voltavam-se para o sol que nascia, e calculavam já quantas terras, e que somma de direitos reaes lhes poderia render da parte de um rei prodigo a sua mudança de opinião.
Entre elles não se via o tenaz e astuto Pacheco. Habituado ao tracto da côrte por largos annos, experimentado em todos os enredos dos paços, habil em traduzir sorrisos e gestos, palavras avulsas e discursos fingidos, não tardára em perceber que as mercês e agrados d’elrei e de D. Leonor encobriam intentos de irrevogavel vingança. Conhecendo que a sedição popular fôra inutil, e que, ainda renovada com mais