Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/180

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furia, não poderia resistir ás armas de D. Fernando, havia-se affastado da côrte, e posto que só nos fins desse anno elle passasse a servir o seu antigo protector e amigo D. Henrique de Castella, buscára entretanto esquivar-se ao odio da nova rainha, conservando ao mesmo tempo a boa opinião entre o vulgo.

Abandonado assim do seu guia, o infante D. Diniz soffrêra resignado um successo que não podia embargar; mas, digno filho de D. Pedro, conservára intacta a sua má vontade a D. Leonor. Abandonado dos seus parciaes, vendo, se não trahida, ao menos quasi morta, e inactiva a alliança de Pacheco, e, para maior desalento, seu irmão mais velho o infante D. João ligado com essa mulher, da qual este principe mal pensava então lhe viria a ultima ruina; no meio de tanto desamparo, o infante, a principio timido e irresoluto, sentira crescer a ousadia com os perigos; sentíra girar-lhe nas veías o sangue paterno. Obrigado a seguir a corte, nunca D. Leonor achára um sorriso nos seus labios; nunca o víra conter diante della um só signal de despreso. Assim a colera d’elrei contra seu irmão havia chegado ao maior auge, e os calculos de fria e paciente vingança estavam resolvidos no animo de Leonor Telles.