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Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/200

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o bairro a que hoje damos geralmente o nome d’Alfama) senão edificios queimados, ruas entulhadas, praças desfeitas, vestigios do sangue, peças de armadura aboladas ou falsadas, hastilhas e ferros partidos de virotes, de lanças e de espadas, e aqui e acolá cadáveres fétidos, não só de cavallos, mas também de homens, cujas carnes, meias devoradas pelos cães ou pelo tempo, lhes deixavam branquejar as ossadas. Sobre os entulhos appareciam como phantasmas os servos mouros, revolvendo as pedras derrocadas em busca de alguma preciosidade que tivesse escapado ás chammas e ao inimigo; e juncto ás paredes negras da sinagoga os mercadores judeus, olhando para o seu bairro assolado, depennavam as barbas â roda dos rahbis, que recitavam em tom de pranto os versiculos hebraicos dos Threnos.

Por meio deste vasto quadro de assolação rompia uma numerosa companhia de cavalleiros e damas, de donas e escudeiros, de donzellas e pagens, brilhante cavalgada que descia da banda de Santo Antão para S. Domingos, e tomava pela corredoura para a porta do ferro. A formosura e o luxo das mulheres, as figuras athleticas e os rostos varonis dos cavalleiros, o brunido das armas, o loução dos trajos, o rico dos arreios, tudo emfim dava