seu confrade Fr. Joanne, procurador do mosteiro:—perdoae-me! Foi-se o vêr, vae-se o ouvir. Em distancia, já não acérto a distinguir as falas.”
“Estae quedo; estae quedo, mestre Affonso:—disse Fr. Lourenço, segurando o cégo pelo braço:—O indigno prior do mosteiro da Victoria não consentirá que o mui sabedor architecto e imaginador Affonso Domingues, o creador da oitava maravilha do mundo, o que traçou este edificio doado pelo virtuoso de grandes virtudes rei D. João á nossa ordem, se alevante para estar em pé diante de pobre frade...”
“Mas esse religioso—interrompeu o cégo—é o mais abalisado theologo de Portugal, o amigo do mui excellente doutor João das Regras, e do grande Nunalvares, e privado e confessor d’elrei: Affonso Domingues é apenas uma sombra de homem, um troço de capitel partido e abandonado no pó das encruzilhadas, um velho tonto de quem já ninguem faz caso. Se vossa caridade e humildosa condição vos movem a doer-vos de mim e a lembrar-vos de que fui vivo, não achareis n’isso muitos de vossa igualha.”
“De merencorio humor estaes hoje:—disse o prior sorrindo.—Não só eu vos amo e venero: