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Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/292

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outros individuos ahi estavam, que as pessoas lidas nas chronicas deste reino tambem conhecerão: taes eram os doutores João das Regras e Martim d’Ocem do conselho d’elrei, cavalleiros mui graves e auctorisados, e afóra elles mais alguns fidalgos, que D. João I particularmente estimava. Atraz da cadeira d’elrei um pagem esperava, em pé, as ordens de seu real senhor. O quadrante do terrado contiguo apontava meio-dia.

Em cima do bufete estava estendido um grande rolo de pergaminho, no qual todos os olhos dos circumstantes se fitavam: era a traça ou desenho do mosteiro, que delineára mestre Affonso Domingues, onde, além dos prospectos geraes do edificio, illuminados primorosamente, se viam todos os córtes e alçados de cada uma das partes dessa complicada e maravilhosa fabrica. Elrei tinha a mão estendida, e os dedos sobre o risco da casa capitular, ao passo que falava com o prior:

“Parece impossivel isso; porque natural desejo é de todos os homens alcançarem repouso e pão na velhice, e não vejo razão para mestre Affonso se doer da mercê que lhe fiz.”

“Pois a conversação que vos relatei, tive-a com elle ainda hontem, pouco antes de vossa mercê chegar.”