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Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/312

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comer, limpando a mão ao forro do tonelete, poz-se em pé, em quanto Fr. Lourenço guardava os despojos daquella batalha:

“Bofé—­disse D. João, rindo—­que não ando a meu talante, senão com o arnez ás costas! Cada vez que o visto, parece-me que torno á mocidade, e que sou o Mestre d’Aviz, ou antes o simples cavalleiro, que, confiado só em Deus, corria solto pelo mundo, monteando edomas [1] inteiras, e tendo sobre a consciencia só os peccados de homem, e não os escrupulos de rei.”

“E então—­atalhou o prior—­o vosso confessor Fr. Lourenço era um pobre frade, cujos unicos cuidados se encerravam em saber as horas do côro, e em ler as sagradas escripturas, porém que hoje tem de velar muitas noites, pensando no modo de não deixar affrouxar a disciplina e boa governança de tão alteroso mosteiro. Mas, segundo vosso recado, que hontem recebi, vindes para assistir ao tirar dos simples da mui famosa abobada, o que mestre Domingues aporfia em só fazer perante vós?”

“A isso vim, porém de espaço; que não será nestes cinco dias, que esteja prompta a ponte de barcas, que mandei lançar no Téjo para

  1. Semanas.