Vasques, que já lá estava, gritou ao cégo architecto:
“Mui sabedor mestre Affonso, que quereis se faça do canto, que para aqui mandastes trazer?”
“Assentae-o bem debaixo do fecho da abobada, no meio desse claro, que deixam os prumos centraes dos simples.”
Os obreiros fizeram o que o architecto mandara: este então voltou-se para elrei, e disse:
“Senhor rei, é chegado o momento de vos declarar meu segundo voto. Pelo corpo e sangue do Redemptor jurei que, assentado sobre a dura pedra, debaixo do fecho da abobada, estaria sem comer nem beber durante tres dias, desde o instante em que se tirassem os simples. De cumprir meu voto ninguem poderá mover-me. Se essa abobada desabar, sepultar-me-ha em suas ruinas: nem eu quizera encetar, depois de velho, uma vida deshonrada e vergonhosa. Esta é a minha firme resolução.”
Dizendo isto, o cégo travou com força do braço de Fernão d’Evora, e encaminhou-se para a porta do capitulo.
“Esperae, esperae!—bradou elrei.—Estaes louco, dom cavalleiro? Quem, se vós morrerdes, continuará esta fabrica, tão formosa filha de vosso engenho?”