de João Lourenço da Cunha, D. Leonor Telles, havia muito que era o pasto saboroso da maledicencia do povo, dos calculos dos politicos e dos enredos dos fidalgos. Ligada por parentesco com muitos dos principaes cavalleiros de Portugal, D. Leonor, ambiciosa, dissimulada e corrompida, tinha empregado todas as artes do seu engenho prompto e agudo em formar entre a nobreza uma parcialidade que lhe fosse favoravel. Quanto a elrei, a paixão violenta em que este ardia lhe assegurava a ella o completo dominio no seu coração. Mas as miras daquella mulher, cuja alma era um abysmo de cubiça, de desenfreamento, de altivez e de ousadia, batiam mais alto do que na triste vangloria de vêr a seus pés um rei bom, generoso e gentil. Através do amor de D. Fernando ella só enxergava o refulgir da corôa, e o homem sumia-se nesse esplendor. O nome de rainha misturava-se em seus sonhos; era o significado de todas as suas palavras de ternura, o resumo de todas as suas caricias, a idéa primitiva de todas as suas idéas. Leonor Telles não amava elrei, como o provou o tempo; mas D. Fernando cria no amor della; e este principe, que seria um dos melhores monarchas portuguezes, e que a muitos respeitos o foi, deixou na historia, quasi sempre
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