Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/90

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me será preciso cozer á ponta de punhal a bôca de quem ousar dizer que o infante D. Diniz e Diogo Lopes Pacheco cruzaram esta noite a porta da taberna do gonovez Folco Taca.”

Quando estas ultimas palavras, proferidas lentamente, saíram dos labios do que as proferia, os roncos e assobios do beguino que dormia foram mais rapidos e tremulos.

“Quem é aquelle ichacorvos?—­proseguiu Diogo Lopes, apontando para Fr. Roy com um gesto de desconfiança.

“É um dos nossos:—­respondeu o alfaiate—­um dos que mais têem encarniçado a arraya-miuda contra a feiticeira adultera. Na assuada desta tarde foi dos que mais gritaram defronte dos paços d’el-rei. Por este respondo eu. Não tereis, senhor Diogo Lopes, de lhe cozer a bôca á ponta de vosso punhal.”

“Responde por ti, honrado capitão da arraya-miuda—­replicou o velho cortezão.—­Quem me responde por elle é o seu dormir profundo: quem me responderia por elle, se acordando nos visse aqui, seria este ferro que trago na cincta. Agora o que importa. Em quanto ámanhan elrei se demorar em S. Domingos, um troço d’arraya-miuda e bésteiros