Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/156

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“Oh Manuel! psio, Manuel! chega á fala! Oh rapaz!”

O filho do moleiro (porque era elle) hesitou um pouco. Alguma cousa lhe roía na consciencia. Mas vendo o prior em pé com ar de quem estava resolvido a ir atravessar-se-lhe diante, cortou para elle com o barrete azul e vermelho na mão.

“Boas tardes, padre prior: quer alguma cousa?”

“Quero que você chegue aqui, porque temos que falar.”

O tom com que estas palavras foram proferidas, e mais que tudo aquelle você, fizeram estremecer o Manuel da Ventosa. O prior tractava todos por tu, e o você na bôca delle era presagio infallivel de temporal.

O rapaz parou diante do velho com os olhos cravados no chão, torcendo e destorcendo a orla do barrete que tinha entre as mãos. O padre prior mediu-o de alto a baixo, e começou ex abrupto:

“Então que historias são estas da Bernardina, sô velhaco da conta benta? Sabe o que fez, grandessissimo tractante? Aonde foi você aprender isso? (Esta pergunta era asnatica). É a doutrina que eu lhe ensinei em pequeno? De que tem servido os exemplos de modestia