Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/159

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“Prometto, sim senhor! Ahn!”

“Ora, pois, socega, e não chores. Deixa o caso por minha conta. Volte para casa, e não me torne a rondar pela beira do rio. Entende? Olhe que!...”

O prior estendeu a bengala para o lado dos moinhos, que assobiavam lá no alto, e Manuel da Ventosa voltou cabisbaixo e a passos lentos pelo caminho por onde viera. Sentia confusamente que se aproximava a crise mais temerosa da sua vida.

Então o padre prior assentou-se outra vez no poial do cruzeiro, e recaíu em profunda meditação. Depois de um bom quarto de hora, poz-se em pé e encaminhou-se para o presbyterio. Tinha anoitecido. De memoria de homens nunca ceiára tão tarde!

E andando, o velho sacerdote repetia aquellas palavras do livro de Job, onde, entre parenthesis, ha mais philosophia que n’um aduar inteiro de philosophos:

Nudus egressus sum de utero matris meoe, et nudus revertar illuc. [1]

O porque o dizia, bem o sabia elle! Ceiou sem dar palavra: resou o breviario: deitou-se, e apagou o candieiro. Contra o costume, Fr.

  1. Nu saí do ventre de minha mãe, e nu voltarei para alli. Job: cap. 1, v. 21.