Saltar para o conteúdo

Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/161

Wikisource, a biblioteca livre

“Isso, eu lá ponho. Mas, com sua licença, d’onde veio maquia grossa? Hontem não houve baptisado nem enterro...”

E a tia Jeronyma estendia a mão esquerda coberta com a ponta do avental, para não sujar a maquia de que falava, e ao mesmo tempo volvia olhos ávidos, ora para o bofete, ora para o prior.

“Qual carapuça!—­replicou elle fazendo-se vermelho.—­Tira-se; não se põe. Faça o que lhe digo, e dê ao démo o que sabe.”

A ama empallideceu. As palavras tira-se; não se põe eram de ruim agouro; mas vendo já o padre prior azedo, calou-se e obedeceu.

D’alli a pouco o velho parocho começava a tirar de um pé de meia uma, duas, tres peças de ouro; foi tirando até setenta: restavam apenas obra de uma duzia dellas.

“Basta:—­rosnou o prior.—­Póde occorrer uma doença. Então, Jeronyma, vem essas papas?!”

E dizendo isto embrulhava muito bem as setenta peças na folha de papel que tinha sobre o bofete, e mettia-as na algibeira da loba.

“Guarde isso, Jeronyma:”—­disse elle á ama, que entrava com as papas. E empurrou pela mesa fóra o exangue pé de meia. A ama, ao vêr aquella horrorosa sangria, esteve a ponto