“Não se perdia nada:”—acudiu o velho.—“Mas não é anno de fortuna. Era melhor que se tivesse lembrado a horas. Faça o que lhe digo, que não lhe ha-de succeder mal nenhum! Vamos.”
“Se vossenhoria entende?!...”
“Entendo, sim, senhor. A paschoa não tarda; e passada a quaresma você ha-de receber-se. Mas d’isto nem palavra! E córte!”
O tom com que o parocho proferiu estas palavras deu uma alma nova ao Manuel da Ventosa. Imaginou logo que o padre prior tinha aplanado o negocio. Não sabia se risse ou se chorasse. Instinctivamente agarrou a mão do clerigo e beijou-a. A sua gratidão era sincera. O padre prior sentia palpitar esse vivo sentimento naquellas mãos callosas, que apertavam a sua mão enrugada, naquelles labios ardentes, que pareciam devora-la. Conheceu que estava arriscado a deslizar da habitual severidade, e, affastando-se rapidamente, bradou com voz aspera, mas alguma cousa trémula:—“Deixa-me, pateta! Deixa-me! ... e Deus te alumie para que seja esta a ultima das tuas rapaziadas.”
Fez bem em alongar-se: duas lagrymas lhe rolaram pelas faces abaixo.
Naquelle dia a tia Jeronyma chegou a desconfiar