Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/225

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que é o senso patagão e russo, tupinamba e sueco, chim e dinamarquez, emfim o senso de todo o mundo?”

Ai, leitor, que ahi bate o ponto! Quem me dera isso! Quem me dera poder explicar por um capitulo tantos, paragrapho tantos, daquelle sancto homem de Locke, o que me succedeu ao escrever esta famosa historia, e lançar na balança da tua inflexivel justiça uma desculpa de obra grossa dos meus rodeios, desvios e viravoltas na ordem e disposição destes importantes estudos! Por mais que scismasse, por mais que afferisse pelos bons principios ideologicos o meu trabalho, sabia-me tudo torto: era querer levantar uma bóla com um gancho, ou firmar a taboa-rasa do philosopho inglez sobre uma das pontas de um dilemma. Como ageitar a minha narração deambulatoria pelas regras do methodo? Impossivel, impossibilissimo! Fiz então como Constantino Magno. Não achando escapula nem esperança na religião da materia em que me crearam, fugi para a religião dos espiritos, e por uma theoria de abstracção subjectiva expliquei, como Deus me ajudou, as minhas, aliás inexplicaveis, divagações. Encostado a ella como a uma columna de basalto (de basalto, porque as de marmore e de bronze estão muito safadas do