e lento, lançava successivamente uma ou outra mão a esta ou áquella corda: pouco a pouco os seus movimentos tornaram-se mais rapidos, e os sons que transudavam por todas as aberturas, pelos minimos poros da torre, começavam a assemelhar-se ao granizo do noroeste, que de instante a instante se torna mais espesso, ao passo que a nuvem corre mais perpendicular. Era, por fim, um remoinho, um delirio, uma furia sonorosa. Gabriel estava tomado de campanomania; mãos, pés, dentes, tudo repicava. Ennovelado, como um gatinho que quer agarrar e ao mesmo tempo repellir um dixe que colheu ás unhas, o bom do rapaz, com os olhos faiscantes e desvairados, parecia possesso: trepava, bracejava, careteava, tropeava, agachava-se, torcia-se, pulava, volteava, como se estivesse recebendo por todos os lados e a cada instante descargas electricas. Insensivel á matinada infernal, que lhe estrepitava nos ouvidos, Gabriel dirigia palavras de amor, d’ameaça, de incitamento aos sinos, como se elles podessem ouvi-lo. Queria communicar-lhes o seu ardor e enthusiasmo de dilettante; e como se o entendessem, dir-se-hia que, no contínuo vaivem, elles oscillavam tremulos de prazer, e tentavam desprender da pedra os braços robustos e voarem, como as aves que tambem soltavam
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