Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/254

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em companhia da ama do prior, tinha chegado naquelle instante a mata-cavallo, por se havêrem ambas entretido a examinar umas meadas, que a tia Jeronyma dera a curar á lavadeira, e que esta, vindo para a festa, de caminho lhe fôra entregar. Posto que ligados até certo ponto pelo casamento de seus filhos, a mutua má vontade da lavadeira e do moleiro, alimentada por largo tempo, tinha sido como o escalracho: cada anno profundara mais um palmo de raizes. Só havia uma differença, e era que Perpetua Rosa, protegida pelo genro, perdêra pouco a pouco o medo que tomára a Bartholomeu desde aquella historia das saccas, e já se engrifava para elle sem cerimonia. Encontrando-se ás vezes na azenha, nem uma só deixavam de se travar de razões por qualquer palha podre. De resto, tractavam-se com apparente cordialidade. Era como a alliança e sympathia actual entre a França e a Inglaterra.

“Pois não, sua lambisgoia!”—­acudiu o moleiro fazendo-se vermelho.—­“Acha você muito bonito que meia duzia de patifes estejam judiando com as pessoas que querem entrar na igreja? Com um quarteirão de diabos! Quem dá o pão dá o ensino; e este, pelo menos, hei-de eu ensina-lo!... Rosna p’ra ahi, pedaço de bruxa velha:”—­accrescentou elle, vendo que