Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/285

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catalogos de guerreiros.—­“Dê licença!...”—­“Ai, que me pisou!...”—­“Perdoe!...”—­“Não vê?...”—­Eis o que se ouviu murmurar por alguns instantes. E no meio daquelle mar de cabeças adornadas de lenços de côr, listrados, e brancos, avultava a pinha das recem-vindas, que tentavam ajoelhar; pinha semelhante á embarcação rota a ponto de submergir-se, que balouça vacillante, e se atufa lentamente nas aguas. Manuel da Ventosa, que ficára em pé no topo inferior do estrado, sentia apertar-se-lhe o coração vendo a sua Bernardina no meio daquelle cahos de capotes e roupinhas, como uma avesinha do céu no meio de ninhada de sapos. As sedas, o chapéu, as flores, a romeira rangiam, achatavam-se, engorovinhavam-se entaladas entre aquellas baetas, pannos, camelões e durantes, do mesmo modo que sobre o cadaver da virgem se achatam e quebram as alvas roupas da innocencia e a corôa de rosas, debaixo da terra aspera, pesada, immunda, que o coveiro atira brutalmente sobre os restos do que foi bello, delicado e puro.—­“Mas que remedio?—­pensou Manuel. As cousas assim hão-de ser sempre, porque assim foram desde o principio do mundo.”—­Elle, de feito, cria que desde esse tempo existiam missas cantadas, saloias e apertões. Mas