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O BISPO NEGRO.

quadra, abriu-se, e d’ella saíram o principe e Lourenço Viegas, que desciam da torre: quasi ao mesmo tempo assomou no grande portal de entrada o vulto veneravel e solemne do bispo D. Bernardo.

“Guarde-vos Deus, bispo de Coimbra! Que mui urgente negocio vos traz aqui esta noite?—­disse o principe a D. Bernardo.

“Más novas, senhor. Trazem-me aqui a mim letras do papa, que ora recebi.”

“E que quer de vós o papa?”

“Que de sua parte vos ordene solteis vossa mãe...”

“Nem pelo papa, nem por ninguem o farei.”

“E manda-me que vos declare excommungado, se não quizerdes cumprir seu mandado.”

“E vós que intentaes fazer?”

“Obedecer ao successor de S. Pedro.”

“Quê? D. Bernardo amaldiçoaria aquelle a quem deve o bago pontifical; aquelle que o alevantou do nada? Vós, bispo de Coimbra, excommungarieis o vosso principe, porque elle não quer pôr a risco a liberdade desta terra remida das oppressões do senhor de Trava, e do jugo do rei de Leão; desta terra que é só minha e dos cavalleiros portuguezes?”

“Tudo vos devo, senhor,—­atalhou o bispo—­salvo minha alma que pertence a Deus, mi-