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tinha feiticeira mesmo! e está na mão do branco... forte pena!...

— Pois bem, pae Simão; você não imagina cousa que eu tenho aguentado por amor daquella rapariga; meo coração está preto de raiva. Desde pequenina eu sempre gostei della. Todo cobre que eu ganhava, eu dava a ella; vestidinho de chita, lenço de seda, e até brinco de ouro, tudo ella ganha de minha mão. Meo senhor mesmo já me tinha promettido que ella não casava com mais ningem senão commigo. Até ali tudo vae bem. Mas vae senão quando apparece lá um maldito capixaba, um diabo de um mulato pachóla, todo engommado e asseiadinho, montado n'um cavallo preto todo arreiado de prataria. Pois não é o diabo do rapaz que começa a engraçar-se com a mulatinha, e em pouco tempo me transtorna a cabela della. Não passa domingo, nem dia santo, que elle não venha passar o dia lá, conversando com senhor, e o diabinho da rapariga está sempre ahi rente com elle. Café, agua para beber, fogo para accender o pito, tudo é ella que vem trazer, e elle está ahi na sala todo chibante; e eu; que estou enxergando isso tudo, posso ficar com o coração socegado?... falla, pae Simão.

— Conta sua historia, rapaz; ei estou escutando.