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da casa de seu senhor. Como eu ja forral-a para casar-me com ella, com consentimento do senhor, elle começou a desfeitiar-me, e foi castigado por isso. Ahi está a razão porque elle fugio para este quilombo, e hoje foi roubar a menina. Chegando lá hoje de manhã, soube do caso, e sahi tomando o rasto atraz de tua gente, até que vim cahir aqui bem perto nas unhas delles. Mas eu não vinha espiar teu quilombo, como elle diz; não, Zambi Cassange, eu vinha procurar-te para te pedir minha noiva, que elles me roubarão, que é toda a minha felicidade, e que te não póde servir de cousa alguma. Trazia dinheiro para te dar em troco della, mas tua gente me tomou tudo. Zambi Cassange, entrega-me Florinda, e minha lingua seja queimada no fogo do inferno, se algum dia ella contar nada do que aqui vio, e juro por minha mãe, que morreo no captiveiro, que sempre que puder, hei de te dar aviso para salvar-se das perserguição dos brancos.

— Eu Zambi Cassange deixar sahir vivo quem uma vez aqui entrou!... você está maluco, capixaba. Era preciso mudar de tóca, e não estou por isso agora; acho-me muito bem aqui. Tenho soltado muita gente, quando são apanhados fóra do quilombo, mas cá dentro, isso nunca. Já agora, tem paciencia, meo moço; você não sae d'aqui mais.