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Da roxa saudade — as folhas mimosas
Não queiras, Elysa, — alli derramar,
Que a par dos encantos — da meiga saudade
Se occultam venenos, — que podem matar.

Esquece-te, Elysa, — que a lyra funesta
Não ha de importuna — sentida gemer;
Que a amarga memoria — dos tempos que foram
No fundo do peito — eu juro esconder.


Lisboa, 1848.

Latino Coelho.




OS OLHOS NÃO MENTEM.


Não sei se acredite — se vá duvidando
Que os olhos não mentem, não mentem sei eu.
Mas lingua da terra, na terra fallando
Não podem dizer-me taes coisas do céu.

Os olhos não mentem que são a voz d′alma,
Singello, — o que sente nos olhos o diz —
Ou sonhe venturas gozando da calma
Ou gema saudades, chorando infeliz.

Se um dia procuram guardar um segredo
Coitados dos olhos que tentara mentir
Que logo em castigo, que logo de medo,
Rebenta dos olhos o pranto a cahir.