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Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/11

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guerra dos mascates o primeiro grito do novo mundo contra as metrópoles européias. Não imitou Pernambuco a França nem os Estados Unidos. Pensou e obrou por si muito antes de nesses países se pensar em independência e república.

O ajuntamento discutiu a idéia sugerida por vários nobres de se estabelecer em Olinda uma república aristocrática modelada pela de Veneza; e se esta idéia, considerada por todos de alta magnitude, e recebida por muitos com medo, não prevaleceu, porque foram votos vencedores os dos moderados que, como meio de conciliar os ânimos discordes, propuseram fosse aceito para governador o bispo alheio às lutas partidárias, e a quem aliás cabia o governo, na falta do governador fugitivo, por via de sucessão, conforme dispunha a carta-régia prevenindo as vacâncias, nem por isso se deve desconhecer a prioridade de Pernambuco em cogitar na independência.

A devassa, instaurada depois da chegada do governador Félix José Machado, ocasionou homízios, prisões, seqüestros, que somente tiveram termo em 1714. A capitania ficou arruinada, muitas famílias na viuvez e na miséria; muitas fortunas desapareceram: foram quatro longos anos de calamidades, de lágrimas e luto. Se não houve execuções capitais, não foi por faltarem bons desejos ao governador e aos ministros, mas por se poderem avir neste ponto com aquelas autoridades sanguinárias os